Annihilation | Aniquilação


Aniquilação é porventura um dos mais desafiantes filmes de 2018. Este desafio começa logo pela forma como o filme foi um fracasso na bilheteira nos Estados Unidos, tendo a Paramount vendido os direitos à Netflix. A partir daí, tem sido crescente o sucesso o que nos leva a reflectir sobre a forma como é que já estamos a ver o cinema hoje em dia. Poder-se-á dizer que este é um filme complexo, demasiado estranho, e que a estranheza não resulta bem em cinema. Pois não, já não resulta e há que encontrar outros meios para fazer chegar este tipo de produtos, mais desafiantes, aos espectadores. Veja-se, por exemplo, do mesmo estúdio, o fiasco em cinema que foi Mother!
Mas falando propriamente do filme Aniquilação, temos aqui um produto sci-fi diferente e irreverente. Ele conta-nos a história de uma bióloga, Lena (Natalie Portman) que perdeu contacto com o marido, dado como morto, numa das suas missões secretas, até que subitamente ele reaparece-lhe, impávido e misterioso. A partir daí, ela vai tentar encontrar respostas para o que terá acontecido e é nesse momento que integra uma expedição à Área X, local que está tomado por uma espécie de distorção extra terrestre, chamado The Shimmer, que está a alastrar-se pela terra e que ameaça a espécie humana. Na Área X, as mulheres cientistas que compõem a expedição vão testemunhando eventos mais ou menos surrealistas que refletem um microambiente em constante mutação. O The Shimmer, ou ato extraterrestre, não está simplesmente a aniquilar a espécie humana, está sim a envolver-se na biologia terrestre e a desenvolver um processo que visa transformar tudo o que é vivo em outras coisas também elas vivas, mas transformadas no seu código genético tão radicalmente que em alguns casos, isso leva à desintegração da materialidade do corpo.
A intermediar a expedição, vão sendo mostrados flashbacks da relação amor-tumulto de Lena com o marido, cenas porventura desnecessárias mas que servem para dar mais profundidade à personagem de Lena, contrapondo às restantes personagens femininas e dos próprios diálogos entre si, que são completamente descartáveis como carne para canhão. Nos intermédios da ação, vamos também tomando conhecimento do interrogatório feito a Lena, após ela sair do The Shimmer, sendo que desta forma ficamos a saber desde o inicio do filme que ela conseguiu sobreviver, mas será que é ela mesmo ou uma outra pessoa/entidade transformada?
O contacto final de Lena com o corpo extraterrestre encerra uma experiência surreal numa caverna esculpida a Giger em movimento e é aí que por um lado são obtidas respostas ao seu mistério, mas por outro, são lançadas ainda mais dúvidas sobre o que virá a seguir.
Já com Ex Machina, o realizador Alex Garland, assumiu-se como um dos mais promissores realizadores de ficção cientifica, sendo que em Aniquilação, ele continua a trilhar um caminho singular, que vai ter de ser acompanhado por todos com muita atenção daqui para a frente, dentro ou fora da sala de cinema.

Review de Jorge Branco aqui.

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